31.10.06

Que viva Lula!

Entre as muitas razões que explicam a vitória de Lula nas eleições de Outubro de 2006, está o desejo cumprido de alternância democrática depois de longos anos de arbítrio: Como disse Marcos Coimbra ”O PSDB teve os oito anos de FHC e fez pouco”. Além de alargar o espaço da democracia, a alternância com Lula tinha um sentido adicional: é uma alternância de classe no sistema. O Brasil mostrava a si mesmo que uma pessoa do povo, e não das velhas oligarquias, podia ser o número um.
Lula teve que lidar com um permanente questionamento de suas qualificações. Como em tentativas anteriores de chegar à presidência, sofreu a manipulação de preconceitos e estereótipos, que tornou tão extraordinário a sua eleição. Ao tentar desqualificá-lo no passado, parte da orgulhosa elite brasileira transformou-o em símbolo mais forte. Com Lula, venceram muitos outros, afirmando-se capazes de transcender as suas origens e superar as barreiras.
Após as eleições de 2002 houve uma mudança nas atitudes dos eleitores de classe popular, apontando para o aumento de auto-estima e da confiança de que o Brasil iria melhorar.. Então a alternância se faria completa, chegando à própria ação do governo: um governo diferente, com gente diferente, fazendo coisas diferentes. Ao eleger Lula, os seus eleitores contavam com uma demora que poderia ser longa, até que ele e sua turma se familiarizassem com o poder e suas artimanhas.
A maioria da população fazia uma comparação favorável do governo Lula com os antecessores. Em áreas de ação governamental, esperava-se mais, em outras menos, mas as boas surpresas (macroeconomia, política externa) sempre foram maiores que as negativas (saúde, emprego, segurança). Não houve a crise cambial de 1999, o apagão de 2001 ou o desequilíbrio de 2002.
Para melhorar as condições de vida dos mais pobres, Lula fez até mais que muitos esperavam. O Bolsa Família é o símbolo desse compromisso, tal como os programas como o Pro-Uni, o Luz para Todos. Houve aumento do poder de compra, aumento do salário real, barateamento de produtos de consumo.
Quanto ao “mensalão, não foi capaz de matar a candidatura Lula. De facto, o PT comprava os votos dos deputados de Brasília para ter votações maioritárias parlamentares. É mau ? è, sim senhor"! Mas péssimo era a fome, o crime e a frustração de uns 50 milhões de brasileiros ! E isso Lula ajuda a mudar. Aparte a frustração de muitos “formadores de opinião”, incapazes de formar qualquer opinião, o eleitorado percebeu a gravidade das denúncias do "mensalão". Mas o eleitorado fez a ponderação de acertos e erros, chegando à conclusão que os primeiros foram maiores que os segundos. Mandar Lula de volta para casa, seria um golpe grande demais para seus eleitores. A derrota de Lula seria a admissão que não há saída fora das oligarquias.
Ainda bem que Lula ganhou, agora em nome da Comunidade Sul-Americana de Nações. Desde Cuzco 2005 que ela existe, e a Mercosul é o seu eixo e o seu destino. Se Alckmin tivesse ganho, seria o robot da desregulamentação em nome dos interesses norte-americanos. O eleitorado brasileiro percebeu tudo isso e deu vitória esmagadora a Lula. Hão-de aparecer os intelectuais frustrados a dizer que ele beberrica e só tem o 6º ano. Pois é! Mas os intelectuais que não beberricam e são doutores é que não chegam a número 1 da governação.
Finalmente, para nós, Portugueses, falta agora que Lula descubra mais a Lusofonia. Já o começou a fazer criando o dia da Língua Portuguesa e o respectivo Museu. Agora é preciso que descubra mais Portugal.

30.10.06

Why did Anna Politkovskaya have to die? by Globetrotter

Reading Anna Politkovskaya is like learning a lesson on the hypnotic power of political language. No doubt that the use of words is a luxury and one of those which saves us of many pains. The State provides this sedative but we never know whether the State is a resource in the Defence against threats or if it is a threat in itself. Anna won't speak anymore, but Dostoievsky or some anarchists of the old Russia would know why, indeed she just couldn't.
Let's begin by stating that a Nuremberg Tribunal for the European-wide Balkans of the Twentieth Century, is missing in the backdrop of our european Consciousness. A Tribunal where some British, some Americans and a lot of Russians would have to sit and respond for several holocausts. Ideological composites such as "social-fascism" or "State capitalism" ( because the current Russian Nomenklatura only allows those milionaires who contribute to the obedient civil organizations) are empty words, raised to smoke-screen some essential questions of our Culture.
The current war of Russia in Northern Caucasus ( much wider than the journalistic soundbyte 'Chechnya", which , in fact, reaches as far as Daghestan, Northern Ossetia, Ingouchya and, of course, Georgia) reveals not only the terrible aspects of any other war but also the new ones of Military planning and executing murders against its own people, in order to get a purely military solution.
Russian Opposition, the one of Grygory Iavlinsky or the former chess champion, Gary Kasparov, whether it is not bribed by the Kremlin or doesn't manage in reviving any russian tradition, is going through a frightening metamorphosis. Its most active, effective and militant branch is the youth of the National-Bolshevik Party, the natsboly. Despite the combination of Nazi nationalism and bolshevik Imperialism, dictated by a former Punk-poet and soviet dissident, Edward Limonov, the Party's style and ideology are more palatable than its nazi parafernalia. The problem with this Party, beautified as it was, at its inception, with New-wave black-leathers, military boots, or skin-head daring is the fact that it intends to whitewash Bolshevism and avoid that it be included, straightforwardly as it should be, in the general phenomena of european Nazism. It is not by chance that Limonov, their leader ( a guy somewhat similar to the leader of the portuguese rock-band "Mão Morta") was not only befriended with the north-american artists Charles Bukovsky and Lou Reed, but also friend of the serbian nazi Radovan Karadzic and has, himself, participated im 'serbian missions" in Bosnia.
Yes, Anna Politkovsakaya had to die. Besides being in rage with the Secret Services' Dictatorship which took power in Moscow, she was also in rage against the "democratic Opposition", which collaborates with Power, in a low profile dictated by the West.
Before dying, she was already breathing through the tube of the lyrical solidarity, which is congenial to the Christian Russia, this means, she was leaning to the romantic leftism, so keen in whitwashing every type of crime, on condition it has been dictated by someome who's beautiful, white, and young. However, everybody knows that the first victims of Communism (and this as an exercise of effectiveness) are always those ones who place themselves on its "left".
Who killed her?
I doubt that it was those criminal lobbies that she fingered at -- everybody in Russia knows who they are. Neither the islamic allies of Moscow in Chechnya -- their brutallity is not so futile. It was certainly not Putin, no matter the agencies which are investing in him and he cannot control yet.
Politkovskaya was murdered by clever nazis. In Russia's recent History a large portion of genuine resistance against Nazism was something individual and with a national identity as it happend with the Ucranian National Army which had collaborated with the German Nazis, but only to hold the front against the Soviet Nazis. The "Banderewizi' were crushed, only in 1964.
All things accounted for, one takes two lessons of the slaying of Anna Politkovskaya:
First - the black Magic of Nazi propaganda is an offspring of Dadaism and other psychotropic aesthetic modernisms which flourished at the same time in Paris, red Moscow, black Rome or browning Berlin ( they also have a foothold in New York). One has to kill or blind something inside before taking the path of political assassination and Genocide.
Second - romantic leftism as the one of the natsoboly should have an hard look on itself and get back to the times before the French or American Revolutions in order to set its feet on something more solid than bloodshed. Fraction lines in the diverse an rich balcanic territory we call Europe have been erased during the World-War II and suffocated in the post-war period, when the rst of the world began its tectonic mouvement away from Europe.
In one of the last interviws of Anna Politkovskaya, a veteran of the War in Chechnya who's now in the business of "protection"( organized gangsterism against organized crime) told her that he and his former comrades-in-arms were for Zhirinovsky and they only saw a solution in an "authoritarian Monarchy" for Russia.
If there is no such thing ( either it is a Tirany or it is not a legitimate Monarchy , because Monarchy is authoritative but it doesn't even found its legitimacy in "Nation") russian leftism has to return to the original roots of political Authority of Europe, if it wants to remove the Secret Services from the Kremlin. Otherwise it will go on experimenting some young people in the hell which is the russian penitenciary system, incestuously longing for an eternal youth, which the liberal elite of Russia, in lack of self-esteem, will never recover.
Who killed Anna Politkovskaya? Whoever did it, didn't want to punish her for what she knew, since everbody guesses some of the bad news she could further report. They wanted to avoid she turned into the moral counsciousness of Russia. She was mother Russia against a leader, too young and cold to be called the father of Russia.
Her murder was a ritual one. Look not among the atheists, but among the neo-pagans of Russia, wherever they may be...

27.10.06

A inglesa e o Duque...


A inglesa e o Duque, o filme de Eric Rohmer, jovem cineasta de 80 anos, sobre a Revolução Francesa de 1789, passou muito despercebido em Portugal, excepto pelo “tour de force” de animação computorizada a partir de pinturas a óleo da época. Os fundos de decoração teatral, faz transparecer uma atmosfera singular e estranha, entre a melancolia e o ensimesmamento. Só isso mereceria um Óscar de efeitos especiais. Mas o filme é especial porque trata o liberalismo aristocrático e anglófilo dos aristocratas que actuavam na Assembleia Constituinte, o que em Portugal se chamaria partido do meio-termo, com Palmela, Mouzinho e outros.
Durante a Revolução francesa, após ter sido amante do Duque de Orléans, Graça Elliott, uma inglesa, permanece sua fiel amiga e conselheira. A sua relação, apesar de comportamentos e convicções formalmente opostas, vai desde a amizade quase fraterna à confrontação ideológica brutal. Mas em redor dos dois protagonistas, da pequena história, articulam-se os grandes acontecimentos históricos.
A visão não-revolucionária da Revolução Francesa por Eric Rohmer é a apologia de uma terceira via, que não venceu. Orléans é o aristocrata que defendia uma solução no âmbito da “legitimidade” revolucionária, em choque com os “puros” de direita, para os quais a Revolução constituía algo de abominável e de funesto. Neste segundo grupo, estão os arrogantes que serão os futuros emigrados de Coblença, que nada aprendem e nada esquecem, cheios da história de Boulainvilliers sobre a Grande França, dos Francos que subjugaram os gauleses, cheia do fundamentalismo cristão de Bossuet. e o futuro anti-parlamentarismo de todos os contra-revolucionários franceses até Maurras.No primeiro grupo – monarchien – que é o centro do filme de Rohmer - estão os ecos de Edmund Burke. Esta segunda corrente, minoritária no seio do grande grupo aristocrata, aglutinou os espíritos anglófilos como Cazalès e os seus amigos, Montlosier, Rully, des Roys, Puisaye, defensores da liberdade, mas ligados aos corpos intermédios (nobreza, Parlamento, clero...), e seus privilégios honoríficos. Com o duque de Orléans, os monarchiens pertencem ao campo dos revolucionários. Queriam em 1789 a reunião das três ordens – contra os aristocratas –a sua concepção do mundo político e social não é democrática. Mas o futuro é cada vez mais precário. Cada gesto, cada palavra pode conduzir à perda. Na adversidade, os personagens revelam-se, e Rohmer fustiga a hipocrisia, a estupidez de todos. De um lado, os revolucionários com métodos que podiam ser dos nazis ou dos soviéticos. Do outro, os nobres que traem para sobreviver. O filme merece ser visto como uma lição sobre a história de todas as revoluções

A declaração de Mecca

A declaração de Mecca foi assinada em 21 outubro de 2006, por 56 clérigos muçulmanos iraquianos ( Sunni e Shi'a) sob os auspícios Organização da Conferência islamica. É uma condenação dura em termos religiosos do terrorismo ao estilo da al-Qaeda islâmica, mas permanece ignorada.
A declaração de Mecca vem na sequência da fatwa de 11 de março 2005 por 41 clérigos muçulmanos em Espanha; (b) da fatwa de 30 de março 2005 dos muçulmanos contra o terrorismo (FMAT) em Washington; e a fatwa de 17 Maio 2005 por 58 clérigos, juristas e professores do Paquistão.
Ao ignorar osesforços dos "muçulmanos moderados" contra o assassinato em nome da Jihad agora considerad apostasia, o Ocidente deixa-se arrastar pela estúpida e arrogante liderança americana. Deixem os muçulmanos entender-se sobre que Jihad (luta) e Itjihad ( esforço de reinterpretação) desejam...!

Bismillahi Al-Rahmani Al-Rahimi
In the Name of God, Most Compassionate, Most Merciful

We the scholars of Iraq, from both the Sunnis and the Shiites, having met in Makkah Al-Mukarramah in Ramadan of the Lunar Hijra year of 1427H (2006) and deliberated on the situation in Iraq and the disastrous plight of the Iraqi people, issue and proclaim the following Declaration:
The crimes committed on sight on grounds of sectarian identity or belonging, such as those now being perpetrated in Iraq, fall within the ambit of “wickedness, and mischief on the earth”, which was prohibited and proscribed by Almighty God: (...)
The espousal of a school of thought, whatever it may be, is not a justification for killing or aggression, even if some followers of that school commit a punishable act since:(...)

Any provocation of sensitivities or sectarian, ethnic, geographical, or linguistic strife should be shunned and averted. Similarly, any name-calling, abuse, or vilification and invectives uttered by any one party in attack on another should be avoided in view of the express prohibition by the Holy Quran, which labeled such conduct as “blasphemy”:

Certain things and principles should never be forfeited, including in particular the unity, cohesion, cooperation, and solidarity in piety and righteousness, which should all be preserved and protected against any attempt to tear them asunder(...)

24.10.06

O referendo, por Pedro Cem

Vem aí o Aborto. E eu que esperava que viesse o julgamento do Mladic e do Karadzic, ou até do Bush, do Cheney, do Colin Powell e da Sra. Rice. E também outros julgamentos famosos, como os daqueles que fizeram a primeira e a segunda Guerra Mundial, mas não foram assentar o traseiro em Nuremberga, os que fizeram a Guerra dos Boxers, os massacres dos Índios e dos Negros. Ou até o de quem matou o Autarca Colaço, ex-amigo do Saleiro, que afinal não morreu carbonizado num desastre em 1997, mas metido dentro do carro depois de lavar uma pancada. Ou dos assassinos de Sá Carneiro e Amaro da Costa. E eu que queria bem isso, para não andarem tantos fantasmas a assombrar o meu pomar e vodus a fanarem-me a paz.

Mas não! Aí vem o Aborto. De novo os pró-vida e os pró-escolha. Amanhã vamos referendar quando se desliga a máquina e, depois quando se desliga a Responsabilidade do Amor, como foi em Angola, Moçambique e Timor, que morreram para cima de um milhão de pessoas. E, eu que pensava que ia dormir descansado ao pôr-do-sol, puxar o cobertor esburacado sobre o peito e dizer para o meu gato: “Ah, Tareco, amanhã vai ser melhor, fez-se Justiça!”. Miau, diz-me ele! Miau?! Se calhar foi porque o mandei castrar...

Como se pode abater um milhar para salvar milhar e meio, a terapêutica da Guerra evita que uma série de pobres mulheres tenham de gramar os filhos decepados o resto da vida. Evita-se-lhes assim uma vida miserável, para eles e para elas. Eles são como girinos, podem ir para a vala comum como quem vai pela pia abaixo.

Eu sei que há não sei quantas mulheres a morrerem por vãos de escada, barbeiros e clínicas espanholas, no nosso país, todos os anos. Mas porque estão a morrer cem pessoas por dia no Iraque, e são iraquianos que se matam entre si, não vou eu aprovar a Guerra, nem quem a provocou e quer continuar ( isso mesmo: se a coisa passa por meter o Saddam cá fora e também negociar com ele, há que o fazer, o mais tardar, hoje). Negoceia-se, emenda-se e corrije-se o que se pode, minora-se o mal, trata-se dos vivos, estejam eles onde estiverem, na barriga da Mãe, ou no rés-do-chão de Canaã, depois dum gandulo do Hezbollah ter ido lá disparar um míssil. Faz-se o juiz julgar com pulso honrado e bom mas não se anda aí a estourar foguetes para ir fazer um aborto como quem vai buscar o retorno do IRS.

Já que vem aí o referendo, proponho uma pergunta assim:
“Concorda com o direito de, em qualquer circunstância, você ou alguém que lhe é chegado interromper voluntáriamente a gravidez, até às dez semanas de gestação?”.

Ah, jubentude, digam-lhes como é que é...

22.10.06

A Ética de um Republicano, por Pedro Cem


(Imagem Mad Vit , por Lucy Pepper)

Diz uma lenda persa que Zoroastro voltará, do fundo de um lago, por uma virgem, e expulsará turcos, romanos e islâmicos. Os seus sequazes, entretanto, vão sendo purificados na arte de transportar cadáveres. "Os Arianos" e os areeiros, são uma agência funerária. Tanta areia no deserto e morre-se pela nafta, as lágrimas da Ahriman, o Senhor das Trevas que faz arder o fogo efémero, cheio de fumo.

Pode-se dizer qualquer coisa e diz-se muito na TV. Mas o que se não diz é ameaçador. Por cada palavra, Presidentes e transeuntes, deixam montes de sombra. Os cientistas chamam-lhe anti-matéria, outros chamam-lhe asneira. Tanta asneira! O bêbedo da aldeia fala: não escutamos.

Venha o diabo os escolha, Republicanos e Democratas, o filhinho do Papá ou a Mulher do Meninó, Sócrates ou Lopes, Mullahs ou Generais. Tenho a sensação que tudo isto é o fim-do-mundo mas antes de acabar o Mundo, acabo eu e tu, e acabamos mal.

Chove tanto que afoga, depois do Sol reduzir tudo a cinzas. Mussolini, o fascista, gritava numa varanda, em 1921, que, se tudo falhasse, restava a Anarquia à gente de Itália. A Anarquia era a ordem escondida com que sobreviveriam. No apogeu do seu Poder não tirou uma vírgula ao que disse. E acabou mal, na mesma, ele que não foi covarde, nem suicida.

Agora que tudo parece falhar, que fazer?

No cruzeiro do caminho, somos branco e preto, índio e chinês, gigantes da montanha e peixinhos do Mar, cabelo duro e olhos azuis, um pé no cais, outro no barco, ala-ala, Alá, valha-nos Deus! De bom grado devolvamos o Falar ao Rei antigo e que o Arco seja de um só, absoluto, sim, que vai absolvido pela Grei e leva a Coroa de Espinhos, pois nós guardamos as Cinco chagas. De um só e apenas de um, seja o Arco do Ser: a Monarquia. Como Caronte há só um na passagem para o Inferno, só há um Rei Pescador no caminho de volta.

Entre o Rei reposto e o Povo posto, há-de fermentar o môsto. Não queiras saber da Trindade, deixa-te cair do Cabo abaixo, o Vento te levará. Entre a quadratura do círculo, diária, a que a Desolação nos condena e fragilidade humana do Rei, haverá um terreno comum. E ficará sempre comum, e de ninguém, mesmo sem Constituição, algures entre o Mar e a Terra, o Pinhal do Ar Livre.

17.10.06

Living under a Remote Control, by Globetrotter


1 - There is a debate in Britain about the use of the headdress by muslim women. After Romano Prodi, Jack Straw and Prime-Minister Blair joined in, my barber has a say.He tells me, in the style of Gen. Dannart, the Commander-in-Chief of British Armed Forces: "you should have an haircut sometime soon". What does my hair have to do with a civil war in Iraq or muslim women, walking around in veils? Simple. One shouldn't be what he looks like: I, as a woman, a muslim woman as an equation, Blair as a liar and a British soldier, as an undertaker.
2 - An accident in Rome, in the railway: a young woman of thirty, a researcher in Statistics, dies and she is the only dead among one hundred casualties. She is the only one, and the trains of Rome stopped on her, only for a day. One week before there was a drill in Rome, over the simulation of a terrorist attack, in a scenario of hundreds of casualties.

3 - The small Embrayer plane which caused the death of 155 people in what has been called the biggest tragedy of brazilian aviation, had its transponder set at an inaudible level, during 15 minutes, while navigating in the same channel of the fallen plane. The pilots had lowered the sound. But they were not their own passengers' terrorists. Moreover, they showed such a cold blood that they managed to rescue 7 passangers in a situation where the probability of success is very low. The pilots on the big plane, did all they were supposed to do but they didn't succeed.

4 - Experts say that the clues in Anna Politkovskaya murder certainly lead to the young and handsome Head of the pro-Russian Chechen Government, Ismail Khadirov, who vehemently denied his responsability in the slain of any woman. The motives behind the stabbing to death of another journalist, this turn, the head of the powerful News agency Itar-Tass, seem diverse. What do they have in common? Many things. One of them could be the commonality of sensations between a conscient man who's penetrated several times by a naked blade and the a terrified woman, in a narrow lift cabin, being dilacerated by four gunshots.

6 - Marc Foley was the Chairman of a Commission in the US Senate, responsible for children who had been missing or abused.

7 - Kim Jong-Il and his government have taken the UN Resolution as "an act of war". They are talking of a set of words and injunctions from what seems to be the closest possible to such a thing as an "international community". And what this latter, whatever it may be, has put in common, are the ways and ends of avoiding war. An act of war stops short of waging it, but the utterance of "war" saves us from these technicalities.

8 - We remember people in Washington preaching the goodness of bombing Teheran, waving a flask with a white powder inside, philosophizing on the compellance of pre-emptive attacks to pursue the universal and basic right to Democracy. Where are they gone, now? Did a daring Dictator, somewhere in the Far-East, clap his hands and made them fly away as a flock of sparrows? No. They just have to pass from words to deeds and they're learning that a deed, among a collection of people, is something different from emptying a square. They may not look back when they step alone in an arena but people do look around whenever they fill it.

9 - Experts speak of more than half a million people dead, after three years of "Iraqi Freedom", but the report may not be credible. A powerful terrorist army has proclaimed an islamic State in the West and center of Iraq, but that's not credible. Is Saddam Hussein going to be hanged or shot? Either of both is credible. If Bin Laden may be either killed on the run or brought to Justice, what difference does it make one more drop of blood on the tree of Liberty?

10 - One hundred sailors from Sri Lanka were killed ashore, while travelling back to their homes on a holiday. The wild, wild sea didn't like their prayers. They exhausted all of them during the tsunami and the attackers were blind long before the wave had arisen in the horizon.

11 - In Portugal people discuss the legal Right of resorting to Abortion until 10 weeks of pregnancy. Maybe they'll discuss one day the Right of resorting to Euthanasia, until 10 weeks of longevity. One thing has nothing to do with the other, except, the fact that a decision has to be taken.

12 - Michele Bachelet, the Chilean Prime-Minister, was once tortured, side by side, with her mother, by the military of Pinochet. She never managed to put this latter in prison. She didn't like, either, the speech which Chávez, the President of Venezuela, made recently at the United Nations.

15.10.06

Novos Blogs Super-recomendados

Jorge Ferreira - Aí está como ser independente em política!

Lúcia Pimenta -
Não há dúvida que é um génio da ilustração!

Jack Straw & Hamdi Zaqzouq

Nem todos os dias, os moderadores vencem. Aqui está uma vitória do ex-ministro Straw em acordo com o minsitro da Relgião, do Egipto. O acontecimento tem a maior importância num momento em que se debate o papel dos 88 deputados da Irmandade Muçulmana, no Parlamento egípcio de 454 lugares.
Cairo, 13 Oct. (AKI) - The niqab, a Muslim headdress that leaves only the eyes exposed, is not a religious object, Egypt's religion minister said Friday, entering the debate started by British ex-minister Jack Straw, who said he asked Muslim women visiting him to show their faces to facilitate dialogue. "Nor is the niqab a duty deriving from the Sharia" added Mohammad Hamdi Zaqzouq. "I know I will be criticised for my words but I think some Muslims are committing a fundamental error, focusing on external and superficial aspects, without exploring more relevant themes, and hence providing a distorted image of Islam" he said.

Straw last month triggered debate by inviting Muslim women in Britain to leave at home their veils, saying he would like to see their faces, "understand the expression of his constituents".

14.10.06

Então, a malta não veio?!

“Eles já comeram muito; agora é a nossa vez”

José Barbosa para Israel Anahory, Câmara Municipal de Lisboa, 5 de Outubro de 1910

13.10.06

Uma Praga Ocidental, por Pedro Cem


Tudo começou por uma ideia oceânica de que "o Mundo é meu" ( e o Céu também). À traulitada e ao cacête, o coração não se demovia deste enlêvo. Todos nos haviam de amar quando aparecêssemos de corpo bem feito e armadura.
Quando os calhaus começaram a chover e alguns dos nossos caíram, até inventámos a vida além-túmulo, cheia de carinhos só para nós, como se a Distracção e Ignorância não fossem nada...
Depois elegemos o filhinho do Papá para nos governar. E da Mãmã,também. Porque Mulher que queira, até manda chover no Deserto. E lá foi o filhinho do Papá governar-nos. Era estúpido que nem uma porta e, pior de tudo, ninguém lho disse. E saíram asneiras atrás de asneiras.
Inventámos a Revolução, a Liberdade e a Democracia. De cada vez que um calhau nos caía num pé e uivávamos de Dor, vinha um outro sentimento oceânico: um 'Mundo dourado de Senhores e da Virtude"ou um "Mundo dos Livres e da Justiça". A um, seguia-se sempre o outro.
De tanto universalismo e globalização, ficou-nos um ardor na cara, um rubôr de estupidez.
Algo, do silêncio do Universo, nos disse que, afinal, não éramos os Eleitos, nem os Senhores, nem os Justos. Ah, descobrimos confortados que, ao menos éramos homens e até nos dispusémos à mais alegre das degradações para nos ajoelharmos a outros Senhores humanos, que houvessem por aí, pois tudo era um Senhorio. Mas o resultado foram apenas três dias de Carnaval de consentimentos infames que acabavam em pauladas furiosas. Então só nos restou chamar pelo Papá. E pela Mãmã.
Começando a duvidar que nos estivessem reservados os "carinhos do céu", ficámos com os carinhos da Mãmã e com a companhia à força, da Prima, para as brincadeiras.
Alguém nos disse que, se tínhamos sido os melhores, era porque merecíamos. Disse-nos a Mãmã.
Mas que matilha de macacos em que nos tornámos! Todos na árvore da Ciência do Bem e do Mal, às macacadas, quando, em torno, se acabara o Paraíso.
E agora, o que nos resta, é o arrepio de medo, do que se vai seguir, quando acabar a brincadeira...

10.10.06

Oops, I did it again! by Globetrotter


Tonight, on stage, the actors improvise. But only tonight, because tomorrow their improvisation will be embedded in the script itself. No more beginnings. Lavoisier just kicks off one more round in the carousel that never stops. Kim, the improbable Powerful, is already accelerating the carousel where he stepped in: "next time, if you, Americans, are not flexible enough, I'll launch one of my nuclear missiles, "which nobody knows for sure, whether it will really take off or fall, nose down, on the neighborhood. Look at Ahmedinejad: he came all the way from being depicted as "Wanted", side by side with Osama b.Laden, up to the point of glittering in prime-time, on CNN. We are even compelled to believe that the much more exposed and primitive nuclear program of Teheran, is now less threatening than the one of North Korea, and even relieved because they'll always have terrorists as an option.

Security is no longer an affair of State, neither an affair of Nations. Security is no longer a rumour to exploit day to day, by a restless journalist, dopped in miracle and wonder. Security is denial, precisely as the Hungarians are doing, now, everyday, in front of their Parliament.

The stop-and-go of US fireworks is coming to an end, just as euphoria doesn't tackle depression, but exhausts the patient. After all, the "American Century" of neo-conservatism, only managed to radicalize Islam, which could be wordly-going, but didn't carve a springborad, to make American universalism bounce back as the "Empire of Evil", once, did. Experts say that, more than the Afghan war, the USSR collapsed because of Ronald Reagan's Star Wars, which led Moscow to neglect russian consummer standards, in order to cope with the arms race. Now, the West finds itself in the same situation. Preventive wars and pre-emption only managed to spin more pre-emptions round and covert actions made the hunter weary of his own dog. Worse than that: pre-emptive wars only succeeded ( if they'll ever do) in weak States.

We shouldn't care whether Condie Rice, or Senator Foley, or Rudolph Giuliani are going to rebound. We should care of ourselves, with the means we have, even if they're parochial, philistine or primitive, such as Nation, Tradition and Frontier. The world wasn't redesigned after the dissolution of the USSR because the bedrock of brave new worlders has always been shlugginess.

It may be that we won't have nothing else than our fingers to write on the water but that will probably keep us afloat on a tide that nobody is able to predict. Maybe marxists are putting their Champagne bottles on the rocks, to celebrate the end of the capitalist society, in thirty years or so. But they will be blind by that time...they won't even remember where the fridge was.

8.10.06

Uma praga russa, por Pedro Cem


Anna Politkosvkaya morreu, com quatro tiros, dentro do elevador, pequenino e estreito, do seu apartamento exíguo de Moscovo. Tinha sido mediadora durante o sequestro terrorista no Teatro Nordeste e fora alvo de uma tentativa de envenenamento quando se dirigia a Beslan, para o mesmo fim. Dizia um pianista russo durante aquilo que eles chamam a Grande Guerra da Pátria e nós Segunda Guerra Mundial que "hoje não quero pensar em Música mas apenas em matar alemães e enterrá-los bem fundo na terra". O Verão está a morrer na estepe, o Sol voa baixo, a Natureza morre e Anna será enterrada bem fundo na terra. Na estepe, o vento levará os soluços dos seus filhitos órfãos, como já levou tantos gemidos, os transformou em uivos de lobo e os trouxe de novo, na Primavera, com os gritos das andorinhas. Na Chechénia o fantasma de Basayev continuará a dançar sobre um pé e o viking islâmico Omarov a cortar-lhe a erva por baixo, com a foice grande.

Há uma alma russa que suporta todas as dores e, de rastos na lama e no frio, toma um balanço sem fim. Essa alma não vive no Kremlin, nem bate às portas de Novgorod. Essa alma foge a correr pela estepe, com o filhinho nos braços. Algures na fronteira onde vagueiam os povos sem mapa, alguém dará fogo de aquecer e água de beber ao filhinho que Anna não teve. Também a estepe sem fim, traz a doce rendição, dos que vencem sendo vencidos e dos que têm o ar míope, confundido e escolheram não ter mar, como Politkovskaya.

O relâmpago cairá na estepe, sobre o assassino que julga fugir. Porque todos os lobos que guardam a Santa Rússia, saiem esta noite a monte para lhe indicarem o caminho.

7.10.06

Foi finalmente descoberta a "ética republicana"


No 5 de Outubro, quando as televisões transmitiram a celebração da data na Câmara Municipal de Lisboa, permaneceu a dúvida se havia mais pessoas nos varandins dos Paços do Concelho se na Praça do Município. O ritual comemorativo do regime republicano já nada diz à população; 16 anos de “balbúrdia sanguinolenta” e 48 de ditadura fizeram com que o princípio nunca plebiscitado se esvaísse, sem sangue nem drama. Ficam 32 anos de Democracia. A precisarem de novo impulso.
O assessorado discurso do PR, que se pode consultar na página oficial que também fala ede uma exposição de carros de luxo da Presidência e da ineleita Maria Cavaco (sic) e outros brindes reverte à "
instauração de uma ética republicana de serviço público". Por Amor de Deus! Que assessor escreve isto!" E que assessorado o aceita ! Estamos em 2006, ou em 1906 onde ainda era legítimo arvorar esperanças na república tout court . . . Que ridículo seria se alguém ligasse a fundo ! Que ridículo é , porque ninguém liga. Que embrulhada misturar um saudável apelo à anti-corrupção com palhaçadas sobre "ética republicana". Ainda se o homem se lembrasse de virtudes mais normais, como as do cristianismo. Mas "quod oleum non dat..."
Agora noutro tom:
Conforme o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2005, dos primeiros 20 países – com mais alto nível de vida, maior justiça social, e maior participação popular – todos são democracias e 12 são monarquias constitucionais que, aliás, vêem à cabeça. Os reis despojados de poderes políticos têm cada vez maior apoio entre a população, apesar de alguns os acusarem de constituir um precedente para a desigualdade entre os cidadãos. Em 2006, o livro For Sweden indica que o rei Carlos XVI Gustavo desfruta de 80% de aprovação. A popularidade da família real de Espanha está em crescendo. O 80º aniversário da rainha Isabel II de Inglaterra mostrou a resiliência britânica. Simeão da Bulgária foi primeiro-ministro de 2001 a 2005; quase todos os países da Europa do Leste restabeleceram as armas reais nos símbolos nacionais; eis exemplos que desafiam a imagem incontornável do republicanismo que, na Europa do início do século XXI, deixou de determinar as atitudes e comportamentos políticos das populações.

5.10.06

Fundamental, por Pedro Cem


A Comunidade Amish nos EUA é aquela da Igreja Mennonita holandesa, protestante, mais isolada do Mundo. Rejeita grande parte do Mundo moderno, como automóveis, rádio ou televisão, só baptiza os seus membros quando são crescidos, usa uma roupa uniforme semelhante à do séc. XIX, não tem Igreja senão a casa de uns e outros, tem um bispo por cada centena de pessoas e a comunidade é paternalmente governada por quatro anciãos. Rejeita o Serviço militar e por isso, fugiu da Alsácia, para a Polónia, daí para a Rússia e, finalmente, fugindo aos soviéticos e aos Kaisers, para os EUA. Foi perseguida por Calvinistas e Católicos.

O assassino que os martirizou era um bom marido, bom pai, não era fanático religioso, apesar de filho de um polícia exemplar, não tinha a mania das armas, tinha 32 anos e estava empregado. Mostrou critério ao poupar metade dos sequestrados e sentimentos, na sua ultima conversa, por telemóvel, com a mulher. Era um homem angustiado pela perda da primeira dos seus quatro filhos, nascida prematura e alegou, ao falar com a mulher, que tinha abusado de duas crianças afins, quando tinha doze anos. Embora tal não pareça verdade, equipou-se com material para o sequestro que indica querer concretizar o que então alegou, ou seja, obsessões pedófilas.

Os Amish não podem viver numa ilha rodeada de violência e pornografia ( a divulgação do video de Mohammed Atta e Siad Jarrah, respectivamente líderes do atentado a um das Torres Gémeas e do avião da Pennsyilvania é obscena) sem que ou nós os imitemos ou eles nos imitem a nós. Como parece que eles são mais perserverantes e até começamos a comer os produtos ditos biológicos que eles produzem e de que vivem há séculos, a única segurança que lhes podemos dar é: não consertar a TV quando se estragar, evitar roupa libertina, pensar num meio de locomoção que não o automóvel, reservar as armas para aqueles que tradicionalmente as podem usar e voltar à terra, esperando que quem usa armas o venha a fazer também. Ah...e relativizar a democracia.

Não precisamos de acreditar em Deus, nem baptizarmo-nos pela segunda vez, agora que somos crescidos. Porquê? Porque a primeira reacção dos Amish após o concluir da tragédia, foi fazer uma colecta para ajudar os pais das crianças assassinadas e a viúva do assassino. Contra uma classe destas só nos resta rendermo-nos.

3.10.06

Religion is just Hate and Will of Power, by Globetrotter

Freedom and Democracy have just arrived to the Amish Community in America.
Instead of living their own way which is never free, since it is autonomous and requires the reference to some recurring perfectionism and self-sacrifice, the Amish are now envisaging to carry guns.
After surviving almost intact to wars, aggressive nationalisms, persecutions, in Europe, now they must ( they have) to share the Fourth Amendment of the US Constitution, renounce their abhorrence of guns and carry them as any regular citizen of the Brave New World.
As a matter of fact, they were one of the building blocks of America, the guardians of the pure stream which flows from our conscience and not from our appetite.
Now, they just have to be like anyone else. They'll have to lesson to radio because of Police alerts, watch soap-operas and real life shows to defuse stress, hold mobile phones for security reasons, have someone else's bishop, go to church every Sunday, even Drive-in churches with coca-cola and fodder for the horses.
One of the signs that New York was raising from the ashes after September 11, was the reappearance of an Amish vendor who used to offer a large variety of biological products, at the underground entrance in the Rockfeller center ( we call them "biological products" despite the fact that they are the same products that the Amish have been breeding for centuries). Be sure that just looking to the tenderness of their products would make any honest man cry.
Be democrats, be republicans, be Eagles, poor Amish dodos! God is just a taxation concept, you have to be free, you must follow democratic rules and trends, read Rosseau and the Marquis of Sade, leave the Bible for those who master ancient Languages. Your wives are certainly oppressed, your old men are not allowed to file for euthanasia, your children are being abused since you put them working on land when they are twelve and your young men have the right to wear buttoned coats, skirts and expand all the gaiety inside them.
Be free, join the army to fight in the cruzade against the muslim fanatics.

And I, who just thought, you were a piece of Heaven on Earth...

Today I'm Amish, and I share the pain you feel, knowing for certain that your clean hands hold the keys of Peter.

Vá por aqui...

Tungsténio

para mim tanto faz

Sala Oval

1.10.06

Falcão e Borsalino, por André Bandeira

Vai estrear em Itália um filme sobre Falcone, o Juiz anti-máfia, que foi pelos ares com a sua mulher.
Falcone costumava-se chamar a si mesmo, o "morto que caminha". Era siciliano como grande parte dos seus antagonistas.
Neste tempo de inocentes a ir pelos ares, Falcone não era inocente. Sabia com quem lidava. Um dia, um dos seus guardas queria casar-se e pediu para ser transferido. Ele ia dar-lhe a transferência porque aquele posto não era muito bom para a saúde. Perguntou-lhe se o guarda gostava do trabalho. Ele disse que não. Mas não se transferiu. Perguntou-lhe depois: mas afinal não te foste embora? Já gostas do trabalho? Não, respondeu o Guarda. Mas gosto de si.
Falcone ria pouco. No mundo onde nasceu e onde acabou por morrer, não há muito para rir. A terra é pobre, desprezada, era melhor se calhar ser independente para chorar sozinha, foi invadida por tipos de fora, desde que há memória mas Falcone acreditou em Roma. Ou não acreditou, mas acreditou que há uma Ordem qualquer, uma razão de ser para isto tudo. Alguns dos mais fiéis de Mussolini, até ao fim, eram sicilianos que, como se sabe, abriram a estrada para Roma aos Aliados, não sem antes matarem um comunista, Tresca, que se bateu contra Mussolini desde o princípio depois de Mussolini o deixar sair. Foi em Chicago mas o mafioso que votou contra, matou depois o tipo que mandou liquidar Tresca. Os sicilianos de Mussolini eram juízes e advogados, meteram-se a soldados nas Brigadas Negras. Homens calados, quando chegavam às aldeias dos partiggiani, pediam para falar: deixavam-se ficar, de braços cruzados atrás das costas, expostos às balas fazendo os seus discursos pela honra da Itália, pela Ordem que era melhor que o caos, etc. Ninguém os ouvia mas tinham conseguido quebrar o seu silêncio interior, guardado de séculos, para cantarem aquelas palavras em que tinham acreditado. Muitas vezes era o seu último canto.
Aqui há pouco tempo, um destes sicilianos cansados de caos, que se recusou a pagar o pizzo, e andava com a cabeça a prémio, perguntaram-lhe numa entrevista porque fazia aquilo. Respondeu ao jornalista: porque quando morrer, tu terás de me amar.

Assassinato em Samarcanda


O ex-embaixador britânico no Uzbekistão, Craig Murray, escreveu um livro extraordinário sobre os anos em que serviu em Tashkent, de 2002 a 2004. Aí levanta a ponta do véu sobre a "guerra ao terror" de Bush-Blair. Claro que há grupos de terroristas islâmicos contra o Ocidente. Mas o centro da política americana na Ásia central é sobre o petróleo e o gás. Por detrás das pequenas " bases de nenúfar" dos E. U.A, com 1.000 a 3.000 homens cada, está o cerco do "Grande Médio oriente" que inclui a região do Mar Cáspio, Tengiz, as reservas do gás de Turkmenistão e Uzbekistão e o Golfo Persa. Em emergências, estas bases podem albergar 40.000 homens, como um nenúfar que se abre para receber uma rã ou um sapo. Com a ascensão dos gigantes económicos China e Índia, aumentará a pressão sobre o combustível nas décadas seguintes. A Europa é um importador. E Washington protege o acesso a combustível. O exagero da ameaça da al-Qaeda é um pretexto para a estratégia de cerco. Murray não o diz mas a estratégia inclui a conquista e a ocupação militar do Afeganistão e do Iraque.

O Uzbekistan tem reservas do gás. E o governo de Karimov, velho apparatchik soviético é apoiado por EUA. Desde 2002 Murray recebia provas das técnicas de tortura dos dissidentes. Corpos, baleados, esfaqueados, e escaldados Na base aérea de Karshi-Khanabad em Uzbekistan, torturava-se. Os E. U.A esperava contratos do gás natural de Uzbekistan. Mas em 2004 atrasado, os Uzbeks contrataram com a Gazprom

A CIA falava de operacionais conhecidos do al-Qaeda no Uzbekistan. Mas a informação vinha da polícia secreta de Karimov. E os dissidentes torturados falavam da al-Qaeda.

“Assassinato em Samarcanda" deve ajudar ao despertar sobre o embuste da "guerra no terror." Se esta "guerra no terror" promove um Karimov, e os dirigentes “vodka”; se tortura para obter falsas informações sobre meia dúzia de "terroristas" da "al-Qaeda que cada vez menos diferença fazem, mas que justificam a própria “ guerra ao terror”, estamos perante a morte moral do Ocidente. Este é o ponto central. Os EUA perderam a superioridade moral para conduzir o Ocidente. Os europeus não têm a superioridade material para o fazer. E agora?