31.12.07

Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado...!

Final do "Manifesto Anti-Dantas", de José de Almada Negreiros, dito por Mário Viegas....
">

29.12.07

Merci, Président Sarkozy!

Nicholas Sarkozy, a 20 de Dezembro, em Roma, perante o papa Bento XVI apresentou como visão da «laicidade positiva», que a França não tem o direito de cortar as raízes cristãs. Um presidente francês a ser empossado como «cónego de honra» de São João de Latrão, título concedido aos reis de França desde 1593, parece uma revolução cultural. Mas é ainda mais do que isso. É um sinal de paz social dos não-crentes com moderação que exige um idêntico sinal dos crentes com moderação.
Eu achava grave que o defunto Tratado Constitucional Europeu não invocasse Deus num preâmbulo sobre as raízes da Europa. Mas se o nome de Deus não estava lá ( como não está no Tratado de Lisboa) a culpa deve ser repartida entre as elites agnósticas europeias – do tipo Giscard d’Estaing - e os “cristianistas” – do tipo fundamentalista católico - que invocam Deus em vão e assim desqualificam o ser cristão.A distinção entre um “cristianista” e um cristão é que um quer injectar religião na vida política e o outro respeita a separação entre Deus e César.
È bem evidente que o apoio a políticas públicas pode surgir de razões religiosas. Mas numa sociedade secular, os argumentos apresentados em público, não devem depender nem invocar verdades religiosas. A cidadania em democracia pluralista exige traduzir as convicções religiosas em argumentos morais que podem persuadir pessoas sem fé ou com fé.
Em países como os EUA, a tendência é para vir ao de cima o fundamentalismo dos "cristianistas" o que é mau. Em Portugal, predomina sobretudo a “paz podre”; não há ateus extremistas a proibir que as convicções políticas pessoais sejam informadas pela fé religiosa; o que existe é falta de testemunhos sobre a origem moral das nossas convicções políticas e ausência de debate entre as raízes culturais e religiosas das respectivas posições políticas. Donde, o debate na comunicação social estar tristemente entregue aos "técnicos" dos resultados, sem nunca serem chamado os "especialistas" das causas. O público é esperto: avalia os "técnicos" como porta-vozes de interesses particulares; e normalmente são mesmo porque o debate mais profundo não se realiza.
Pessoalmente, eu tenho consciência que a minha oposição absoluta à tortura, ou o meu empenho na justiça social, parea citar duas questões chave, tem raízes no Cristianismo. São convicções que resultam da minha fé católica, que se aprende como uma atitude e uma cultura e cujos frutos não dependem da hierarquia. Acredito na dignidade inerente de todos os seres humanos como reflexo da vontade de Deus revelado em Jesus Cristo. Mas é muito evidente que outros opositores à tortura e outros defensores da justiça social não foram crentes, como por exemplo Albert Camus e George Orwell, cujo sentido moral, alias, eclipsa o de muitos cristãos e de todos os “cristianistas”.
O debate político não pode depender do recurso a argumentos religiosos. Em política, um cristão não se dirije a cristãos, mas a cidadãos. Pode e deve usar argumentos históricos, jurídicos, constitutionais, morais, estratégicos, económicos, argumentos sobre a história portuguesa, europeia e ocidental. O que não pode é dizer "Sou cristão, portanto tenho razão". Como outros não podem dizer: "O cristianismo é uma parvoíce, portanto tenho razão".
Por isso “Merci, Président Sarkozy” pelo exemplo de moderação que deu e que sacode a paz podre e o fundamentalismo que nos atormentam.

26.12.07

Defenderemos o que é nosso

Ora aqui está um homem que sabe o que faz: Dragoslav Bokan sabe que o futuro do Kosovo está em jogo e pediu a ajuda dos grandes estadistas ocidentais, já mortos numa campoanha lançada pelo o governo sérvio
São outdoors com as imagens de Washington, Lincoln, Kennedy, Churchill e de Gaulle que afirmam "Kosovo é Serbia!" Ao lado dos retratos . excertos dos discursos. Os países ocidentais suportam a independência de Kosovo. Mas como disse Churchill, " defenderemos o que é nosso; nunca nos renderemos." Washington diz: "o tempo está próximo em que escolheremos se queremos ser homens livres ou escravos."
Dragoslav Bokan, director da agência de imagem que fez a campanha do poster afirma que está a lembrar os políticos ocidentais que afirmam o direito de defender a pátria"
Os EUA e a UE acreditam que a administração da ONU no Kosovo, desde 1999, deve ser substituída pelos estado independente dos albaneses étnicos, que são 90% da população. A UE aprovou uma missão para o estado de Kosovohe. Kostunica acusou a UE de criar "um estado fantoche" no solo da Sérvia.
está fazendo a Serbia? Os conselheiros do governo da Sérvia dizem que não faz sentido o país reunir-se à UE que a quer amputar de um território. A retórica pró- Rússia tem aumentado e os laços com a Rússia, são a religião cristã ortodoxa e uma aliança militar de dois séculos, Mas no séc. XXI os Sérvios jogam no futebol da Europa e no basquetebol dos EUA. A campanha do poster, lembra que são Europeus. "O governo não fará a Guerra pelo Kosovo, mas pensa que se pode ser bom europeu e protestar."
A Serbia procura força na sua história de nação cercada pelos inimigos,. A batalha mais comemorada da Sérvia é uma derrota perante os turcos no Kosovo; A raiva sérvia o “inat” existe mesmo. Perder uma batalha não é perder a Guerra. Ou, nas palavras de Kennedy no outdoor "Cumprir o dever - apesar das consequências pessoais, apesar dos obstáculos e dos perigos, e das pressões - é a base da moral humana”

20.12.07

Presentinhos de Natal

José Manuel (Durão) Barroso - Um belo CD com a Música “Vem Devagar Emigrante” de Graciano Saga

Maria de Lurdes Rodrigues - Pau de Marmeleiro com leitor óptico, acessório pedagógico a ser usadodesde o ensino pré-escolar ao pós-universitário,

Luís Filipe Meneses - Uma réplica de um cadeirão de deputado em S. Bento, com a inscrição “nom soô Elitista nem Sulista nem Liberal”

Cavaco Silva - Uma lata de tinta de marca comprovadamente portuguesa para que surja à luz do dia “O Homem Invisível”

Jerónimo de Sousa - Uma edição do livro de Zita Seabra “Foi assim!”, encadernada com a peledos cordeirinhos que os comunistas não comiam ao pequeno almoço

Mário Lino - Uma maquete de aeroporto à escala 1/600 feito em parceria pelo MIT, a Airfix e a Concentra Mattel com a plaquete “Oferta dos Comissários do QREN”

Francisco Louçã - Uma “Bíblia de Jerusalém”, depois de o coordenador do BE ter participado com a Igreja em acções contra a Pobreza

Prémio Extra Internacional George W. Bush - Uma hipoteca sub-prime lançada sobre Camp David e o rancho do Texas

9.12.07

Dia Internacional Contra a Corrupção

O Dia Internacional Contra a Corrupção assinala-se hoje, 9 de Dezembro, quando passam quatro anos sobre a proclamação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção.
Pela resolução 58/4 de 31 de Outubro de 2003, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 9 de Dezembro como Dia Internacional Contra a Corrupção. Portugal, à semelhança da generalidade dos países, ratificou esse instrumento internacional, cujo texto foi publicado no Diário da República de 21 de Setembro.
Em todo o mundo considera-se que partidos, parlamentos, polícia e tribunais são as instituições mais atingidas por uma corrupção generalizada, segundo um relatório da Transparency International (TI), publicado na quinta-feira. De acordo com o documento, 2% dos portugueses inquiridos admitiram ter pago subornos para ter acesso a um serviço.

6.12.07

II (Re)leituras: Ler Schleiermacher, por André Bandeira

Ler "Über die Religion", de Schleiermacher o teólogo protestante que associámos à arte da hermenêutica: a arte de perceber o que é que o outro quer realmente dizer. Neste seu livro, publicado em 1799, quando tinha à volta de trinta anos, Schleiermacher, apela aos indivíduos cultos, aos artistas, aos Criadores do seu tempo romântico, que não percam a noção de Deus nos seus corações. E satisfaz-se com um apelo simples: o de que, onde houver noção de Infinito, há uma presença de Deus e, que portanto, se deixe esse lugar do Infinito estar onde está, mesmo que se não creia. Diz outras coisas extraordinárias, para a sua época ( embora num contexto em que a Prússia só admitia uma Igreja de Estado): que não é mau que haja várias formas de religião, que isso é inevitável e que é bom. Não que não seja má, a inexistência de uma só Igreja mas tudo isso está nas mãos de Deus. Schleiermacher zangou-se com o pai, quando, a certo momento, disse ter perdido a fé na natureza divina de Jesus. Mas recuperou-a, como quem O segue pelo caminho do Mundo, sem desistir. Foi um homem ridículo nos amores. Era demasiado escrupuloso, acreditava na amizade das mulheres que o amavam, não percebia. Acabou por tomar conta duma viúva e do seu filho. Quando morreu, dizem que o enterro foi impressionante, com as milhares de pessoas que o acompanharam. É assim: compreender exactamente o que o Outro quer dizer, andar em círculos entre o que os dicionários magicamente determinaram e o que o coração diz, não faz descobrir nenhuma regra. E a vida dotou Schleiermacher desta contradição, cheia dum Amor intrépido: quando os seus amigos liberais alinhavam para saudar Napoleão, o invasor, Schleiermacher partiu para o campo a incitar o Povo a resistir. Hegel, o pai da URSS e da Alemanha nazi, denunciou-o como resistente. Shleiermacher não foi amado por ninguém e toda a gente o amou.

2.12.07

Mensagem do 1º de Dezembro de 2007




Dom Duarte de Bragança
(Lei na íntegra em Somosportugueses )
"Há 30 anos iniciei o hábito de comunicar com os Portugueses nos dias 1º de Dezembro. Sei que as minhas mensagens têm sido bem recebidas em todas as esferas da sociedade portuguesa porque nelas chamo a atenção para as prioridades da vida nacional. "
(...)
"Sem uma verdadeira "cultura democrática" de participação das pessoas e de responsabilização dos eleitos perante os eleitores cresce a abstenção e a indiferença e em, momentos de crise das instituições democráticas poderemos vir a ser desafiados pela tentação de aceitar ditador "que nos governe".
A independência nacional é também um compromisso com a democracia....
Foram estas considerações que me levaram a fundar em Agosto deste ano o "Instituto da Democracia Portuguesa", que junta personalidades de sectores políticos e culturais muito diferentes, mas unidos na preocupação de que Portugal seja um País livre e independente, numa Europa unida pelos valores que decorrem das suas raízes culturais e espirituais cristãs, gregas e judaicas.
As iniciativas deste Instituto que se preparam sobre o ordenamento do território nacional contam com o apoio de académicos, empresários, quadros e jovens de todo o país. Espero para elas todo o apoio dos que entendem que chegou a hora de um movimento de cidadania que reúna as pessoas pelo que elas têm de melhor e de participação na vida pública mediante resoluções e propostas concretas sobre o ordenamento, a segurança e estratégia nacional, entre outras."

1.12.07

Primeiro de Dezembro, por Pedro Cem

Saudades de Portugal:

1 -- Em Agosto passado desço a Sesimbra. Na camionette de sempre. Vou pela rua, vejo os ciganos de sempre a vender as "t-shirts" Lacoste, falsas certamente. Vejo um cigano jovem que vende a sua mercadoria gesticulando com a mão esquerda e exibindo as camisas sobre seu braço direito, coberto como um estendal. É jovem, não se cansa muito com as conversas. Aguardo a minha vez e vejo uma t-shirt azul, como um Mar de Primavera, que é verde. Digo-lhe então: obrigado por vender estas t-shirts, sempre que venho cá, compro uma ou duas. Ele agradece-me com humildade. As t-shirts caem-lhe do braço direito. Erguido no ar como um punho desolado, como uma mão que implora ao céu sem nunca se abrir, vejo o braço que escondia: não tem mão.

2 - Vou pelo Chiado abaixo. Os ossos todos doem-me. Como um velho, arrasto-me para a esplanada da Brasileira. Ali fico, uns tempos, certamente com o meu ar hollyoodesco, bronzeado, porque tenho os ombros teimosamente largos de anos de desporto de competição, pelos quais estou agora a pagar a factura. A certa altura, um casal vem descendo, o marido, janota, preocupado e sério, ela talvez olhando-me por curiosidade desde o cimo da rua. Sentam-se ao meu lado. Percebo que ela é uma cantora lírica, do Porto, com o sotaque mal disfarçado pelas temporadas lisboetas do S. Carlos. Ele, aprumado no seu ar antigo e lisboeta, com a barba e o cabelo ralo, duma juventude que passou, com a voz um pouco adamada, mas uma seriedade nos assuntos que trata, demonstrando a complexidade desta vida e também o sentido dela. A certa altura, a cantora diz-lhe: "põe a gravata direita, tens o colarinho torto..." e, antes que ele o faça, fá-lo ela. E diz-lhe: Tenho muito orgulho em ti!". Ele estremece. É uma bonita declaração de Amor.

3 -- Tomo o combóio de madrugada, para Lisboa, em romagem aos meus que sofrem. Em Coimbra entra um bando de Mulheres, nos seus quarenta. Parecem como empregadas da limpeza, em fim-de-semana, ou funcionárias administrativas do mais baixo escalão. Vão de férias, que, para elas, são um fim-de-semana, em Lisboa, sem os maridos. Agumas delas não sabem o que isso é. Refere-se uma ao "pai do meu filho", com uma certa doçura que só a pronúncia pura como água, de Coimbra, permite. A conversa delas é, evidentemente, rude. A certa altura, uma diz àquela que se sentou ao meu lado: " Vê lá não adormeças!". Ela responde:"Ah, eu posso dormir já aqui, com este senhor, ao lado".
E rimo-nos. São as férias daquelas pobres mulheres. Um fim-de-semana de Agosto, em Lisboa, para quem mal ganha para comer, mas que ainda se sabe rir.

4 - Vou visitar uma terra da família, no monte, que podia comprar, fazendo um primo menos pobre. Está toda coberta de sarças. Entre moscardos e espinhos, salto de penedo em penedo. O suor jorra-me, sob o Sol. Fico com os espinhos atravessados nas calças. Durante muito tempo os sentirei, sentado em combóios, em táxis, em camionettes. É uma doce sensação que me desperta e me recorda o caminho da terra.